segunda-feira, 7 de julho de 2014


As vezes não durmo. E essa inquietação arrebatadora me sufoca a garganta e os dedos.
Nos dedos pulsam as últimas veias do ego. É onde se encontra a ponta do cordão-umbilical ligado as minhas entranhas. Parindo as palavras que ousei fecundar. E já que as palavras ditas nem sempre são lembradas, escrevo. Escrevo como se fosse a minha última oportunidade de me expressar nesse mundo.

As palavras são mais doces quando lidas. Pelo menos sempre tive a impressão de que a qualquer momento podemos usar o tom errado de voz, tanto consciente quanto inconscientemente. Também pode me parecer mais doce pela maneira como imagino as palavras entrando pelo globo ocular de quem cria e devora mentalmente as linhas e suspira em sua imaginação e na minha. Como se todo aquele que escreve o fizesse pelos mesmos motivos meus.
... quais são meus propósitos?

Sinto que de tempos em tempos engulo um mundo. E esse caminho entre a boca e a garganta, que aparenta ser tão curto, carrega todos os meus segredos. Como se esse trecho não pertencesse apenas a mim, mas fosse minha unificação com o mundo. Ao abrir bem a boca a passagem fica livre, minhas mesmo são só as paredes revestidas de segredos. E o mundo as toca, me fazendo sentir absolvida.

Esse mundo é feito das lições do último ciclo fechado. E como pesa. Não desliza, rasteja. É seco e amargo. Mas engoli-lo vale toda a pena. Submeto-me. Meus propósitos são dois: encontrar-me em mim e alcançar minha redenção (egoísta e contraditória que sou).

domingo, 29 de setembro de 2013

A Arte da Felicidade 2

Minhas conversas com o Dalai-Lama no Arizona haviam começado com a discussão das origens da felicidade. E, apesar de ele ter escolhido viver a vida como monge, estudos já revelaram que o casamento é um fato que pode, com efeito, gerar a felicidade – proporcionando intimidade e os laços firmes que promovem a saúde e a satisfação geral com a vida. Houve milhares de pesquisas realizadas com americanos e com europeus que provam que, em geral, as pessoas casadas são mais felizes e mais satisfeitas com a vida do que os solteiros ou os viúvos – ou especialmente em comparação aos divorciados ou separados. Uma pesquisa descobriu que seis em cada dez americanos que classificam seu casamento como “muito feliz” também classificam sua vida no todo como “muito feliz”. Ao examinar o tópico dos relacionamentos humanos, considerei importante levantar a questão dessa fonte comum de felicidade.

Minutos antes da entrevista marcada com o Dalai-Lama, eu estava sentado com um amigo num pátio do hotel em Tucson, tomando refrigerante. Quando mencionei os tópicos do romantismo e do casamento, que pretendia trazer à baila na entrevista, meu amigo e eu logo começamos a nos queixar da vida de solteiro. Enquanto conversávamos, um casal jovem de aparência saudável, talvez jogadores de golfe, que estava ali passando férias felizes no auge da estação de turismo, sentou-se a uma mesa próxima. Seu casamento aparentava já ter uma certa duração – talvez não estivessem mais em lua-de-mel, mas ainda eram jovens e sem dúvida apaixonados. Deve ser bom, pensei.

Mal estavam sentados e começaram a implicar um com o outro.
- ... Eu lhe disse que íamos nos atrasar! – disse a mulher em tom ácido de acusação, com a voz surpreendentemente rouca, a aspereza de cordas vocais curtidas em anos de cigarro e álcool. – Agora mal temos tempo para comer. Não posso nem saborear a comida!
- ... Se você não tivesse demorado tanto para se aprontar... – retrucou o homem automaticamente, em tom mais baixo, mas com cada sílaba carregada de irritação e hostilidade.
- Eu estava pronta há meia hora. Foi você quem teve de acabar de ler o jornal... – foi a réplica.

E assim prosseguiu a conversa. Sem trégua. (...)
A discussão, que ia se acirrando rapidamente, encerrou de vez com nossas lamentações quanto à vida de solteiro. (...)

Apenas momentos antes, eu tinha a intenção de iniciar nossa sessão com um pedido de que o Dalai-Lama desse sua opinião sobre as alegrias e as vantagens do romantismo e do casamento. Em vez disso, entre na suíte e, quase antes de me sentar, já lhe fiz uma pergunta.
- Por que o senhor supõe que seja tão freqüente o surgimento de conflitos nos casamentos?


* Continua...

terça-feira, 24 de setembro de 2013

A Arte da Felicidade - Dalai-Lama

Todos os dias deparamos com inúmeras decisões e escolhas.(...)
Em todos os séculos, homens e mulheres dedicaram grande esforço à tentativa de definir o papel adequado que o prazer desempenharia na nossa vida – uma verdadeira legião de filósofos, teólogos e psicólogos, todos estudando nossa ligação com o prazer.(...)
Nenhum de nós realmente precisa de filósofos gregos, de psicanalistas do séc. XIX ou de cientistas do séc. XX para nos ajudar a entender o prazer. Nós sabemos quando sentimos. Nós o reconhecemos no toque ou no sorriso de um ser amado, na delícia de um banho quente de banheira numa tarde fria e chuvosa, na beleza de um pôr-do-sol. Entretanto, muitos de nós também conhecem o prazer no arroubo frenético da cocaína, no êxtase da heroína, na folia de uma bebedeira, na delícia do sexo sem restrições, na euforia de uma temporada de sorte em Las Vegas. Esses também são prazeres muito verdadeiros – prazeres com os quais muitos na nossa sociedade precisam aprender a conviver.
Embora não haja soluções fáceis para evitar esses prazeres destrutivos, felizmente temos por onde começar: o simples lembrete de que o que estamos procurando na vida é a felicidade. Como o Dalai-Lama salienta, esse é um fato inconfundível. Se abordarmos nossas escolhas na vida tendo isso em mente, será mais fácil renunciar a atividades que acabam sendo prejudiciais, mesmo que elas nos proporcionem um prazer momentâneo. O motivo pelo qual costuma ser tão difícil adotar o “É só dizer não!” encontra-se na palavra “não”. Essa abordagem está associada a uma noção de rejeitar algo, de desistir de algo, de nos negarmos algo.
Existe, porém, um enfoque melhor: enquadrar qualquer decisão que enfrentemos com a pergunta “Será que ela me trará felicidade ou apenas prazer?”. Essa simples pergunta pode ser uma poderosa ferramenta para nos ajudar a gerir com habilidade todas as áreas da nossa vida. Ela permite que as coisas sejam vistas de um novo ângulo. Lidar com nossas decisões e escolhas diárias com essa questão em mente desvia o foco daquilo que estamos nos negando para aquilo que estamos buscando – a felicidade. Uma felicidade definida pelo Dalai-Lama como estável e persistente, um estado de felicidade que, apesar dos altos e baixos da vida e das flutuações normais do humor, permanece como parte da própria matriz do nosso ser. A partir dessa perspectiva, é mais fácil tomar a “decisão acertada” porque estamos agindo para dar algo a nós mesmos, não para negar ou recusar algo a nós mesmos – uma atitude de movimento em direção a algo, não de afastamento; uma atitude de união com a vida, não de rejeição a ela. Essa percepção subjacente de estarmos indo na direção da felicidade pode exercer um impacto profundo. Ela nos torna mais receptivos, mais abertos, para a alegria de viver.

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Oscilação



Já me censuraram demais pelo meu jeito esdrúxulo de pensar, beirando quase sempre a loucura.
Neste mundo raramente nos compreendemos uns aos outros.
A natureza humana é limitada. Ela suporta até certo ponto.
Alguns se perturbam tanto... se perdem. Outros se realizam artistas.
Eu... Não tenho mais imaginação, nem sentimentos. Nada contínuo.
Oscilo.
Tudo parece nos faltar quando estamos em falta com nós mesmos.
Se o meu mal tivesse cura, a música teria conseguido. Mas ainda escrevo dores.
Tudo quanto se acha fora de nós parece mais belo e todos são melhores que nós. E é natural sentir-se assim na dor, pois sentimos mais claramente nossas imperfeições.
Sinto perfeitamente que o destino me reserva árduas provas.
Se eu soubesse pra onde ir, iria imediatamente.

terça-feira, 18 de setembro de 2012

Olá outra vez eu


Vou dizer como sou: alegre, desde que não me lembre de um mundo de aspirações adormecidas intimamente aqui e que eu precisei – será? – ocultar com todo cuidado... de mim mesma.
Será que existe alguém parecido comigo? Que pensa da mesma forma? Que dê atenção, importância, valor a pormenores que são indispensáveis também a mim?
Sinto-me a mais incompreendida das criaturas. A estrangeira nesse mundo de terra, fogo, ar e água.
Poderiam todos dizer: "Sofre por buscar insensatamente aquilo que não se encontra nesse mundo".
Oh, Deus, não há então nada em minha alma que possa ser aproveitada aqui? Só a carne? O intelecto? E olhe lá...?
Todo o trabalho do homem visa apenas à satisfação de suas necessidades mundanas, as quais tem o único objetivo de prolongar uma existência mesquinha, apinhada de toda sorte de sentimentos reles e volúveis.
E eu? Tenho um mundo dentro de mim que esqueci que existia. Por isso mesmo devo estar neste estado lastimável de estranheza para com tudo. Beirando a loucura.
Algum louco já se afirmou louco? Se não, bom sinal.

segunda-feira, 17 de setembro de 2012


O valor do café depois das 00:00

Caríssima EU,




Como foi sempre meu costume, pensarei.
Analisarei cada detalhe, cada situação arriscada, cada desfecho feliz, aceitável, durável, ou não.
Visualizarei o emaranhado de possibilidades, a teia de opções nascida das entranhas cruéis do destino.
Desenrolarei os pergaminhos, abrirei as portas, acenderei as lâmpadas...
E me ferrarei de novo.
Eu sofreria menos se não me empenhasse tanto a invocar futuros hipotéticos, em vez de me esforçar pra tornar suportável um presente medíocre.
Será?
Uma companhia no inferno é tão proveitosa quanto a solidão no paraíso.
De que me serve?
Neste momento seria impossível pra mim inspirar-me em qualquer coisa bela ou excitante.
Ultimamente ao me ouvir me assombro e calo.

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

O FIM

Eu conseguia ouvir as batidas apressadas e pesadas do seu coração... ou seriam do meu?
A boca seca e os olhos inquietos...
Quem estaria mais desesperado?
E eu ali... esperando uma corda, um salva-vidas, qualquer coisa que me segurasse...
Mas já fazia muito tempo que eu vagava à deriva e sequer tinha percebido.
As lágrimas não paravam e nem diminuíam.
As mãos frias e trêmulas... lembrei do dia em que nos conhecemos...
Senti meu peito rasgando. O sangue que ainda circulava em meu corpo parecia ser ácido... corrosivo.
Sua boca se mexia, mas nada fazia sentido pra mim...
Tudo estava pilhado no chão e verdades atingiam minha cabeça com tanta violência...
De repente tudo ficou cinza e lento... você se tornou um de meus desenhos borrados, animado grotescamente numa história de terror...
Talvez a falta de ar estivesse me fazendo delirar... tudo estava em rotação acelerada no meu estômago...
Mas foi quando as palavras começaram a se repetir que eu percebi que nada mais poderia ser dito.
A lei do retorno riu de mim...
Tripudiou vitoriosa.

sábado, 2 de julho de 2011

Ana vai ao analista

Eu vinha sofrendo dores incalculáveis Doutor...
Não precisa me chamar de Doutor, Ana. Já somos amigos há tanto tempo.
Tá Fred. Me desculpe. É que hoje... hoje algo mudou.
Algo?
É! Não sei exatamente o que é, mas mudou.
Hum... você falava das dores...
Sim! Incalculáveis! Realmente horríveis...
Dores onde, Ana?
Na cara, no fígado, no pé, em tudo, Doutor!
Uma dor na alma você quer dizer...
E que atingia todo o corpo. Pode isso?
Pode. E é muito comum.
...
Mas você dizia que mudou...
Sim! Me sinto completamente em paz. O que significa isso, Dou... Fred?
Vamos descobrir! Você não sente mais dor alguma? Nada?
Nada! Me sinto bem, me sinto leve! Isso é positivo, não é?
É maravilhoso, Ana! Algo que lhe pesava o espírito não existe mais!
Mas é claro que existe! Existe! Só que... deixou de ser um peso.
Então... parece que você já sabe o que é.
Acho que é o amor. Parou de doer.
Mas, Ana, então o amor doía e depois parou de doer? O que houve? Você perdeu alguém e reencontrou?
Sim... foi isso mesmo!
Conte pra mim, Ana. Quem é?
Eu mesma, Doutor. Eu...

sábado, 4 de junho de 2011

Todo dia...

Era meu olhar que pesava a tarde lânguida assistida
Escancarando a medonha dor sentida
Encostada na janela...
"Era ela... sempre ela..."
A noite saudosa invadia
Ressuscitando lembranças malditas
Todo dia... Todo dia...
Ao menos a escuridão escondia.

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Historinha



Eu nasci do vento, pendendo numa balança
Suspirando a esperança
De ter, um dia, uma grande história pra contar

Eu vim crescendo, aprendendo os passos da dança
Formando minha própria banda
Com instrumentos que eu mesma aprendi a tocar

Me vi sofrendo, errei, escorreguei  na lama
Dominada por tantas lembranças
Que me empenhei tanto em sufocar

Hoje enfrento, conquistei meu escudo e lança
A paciência e a temperança
Já fazem parte do meu caminhar.

"Puro"

O ar pesado e quente que me circunda é meu. É o mesmo que entra e sai.
A melancolia que meus olhos projetam é minha. É a mesma que produzo e absorvo.
Esse tom avermelhado é puramente meu. Puramente é só modo de dizer. Não há nada de imaculado neste mundo, nem na vida, muito menos em mim.
Tenho tédio de olhar para os rostos vazios das pessoas vazias.
Tédio de ouvi-las falar sobre assuntos vazios e rirem disso.
Morro de tédio de seus copos cheios e suas almas vazias.
Seus cigarros nojentos cheios e suas idéias vazias.
Não que eu me considere melhor. Talvez eu seja mesmo muito pior. Não consigo me adaptar.
Sofro de individualismo. Ou velhice. Ou recaída depressiva.
Quase certeza que é “puro” tédio.

Dor Cantada

Já vou...
Meu caminho é certo e reto
Não posso parar
Pra esperar você entender que sem você por perto
Minha vida é doce inferno

Já vou...
Você não precisa entender
Agora é tarde
Não se explica o que fazer
A um coração que já não arde
Pra quê?

Estou indo
Com a metade do meu riso doído
Molhado com o veneno salgado
Que é expelido de um antigo pedido
Tão duramente sufocado e
Perdido...

Tchau...
Não haverá arrependimentos
Não dessa vez
Você não permitiu a minha entrega
Esquecimento
É pra onde levo você
Enterrarei esse amor até morrer
Andar...

terça-feira, 26 de abril de 2011

Multipersonalidades e a dialética

 Eu sempre me interessei por textos que começam com a palavra "eu". A subjetividade dos outros é, contraditoriamente, a melhor forma de conhecer a minha própria. Seja por semelhança, seja por relação ou por diferença. Alívio no primeiro caso, sustentação no segundo e auto-afirmação no terceiro.
O 3º é perigosíssimo quando encarado da forma negativa, considerando o desigual como ameaça, o que muita gente acaba fazendo sem imaginar o quanto necessitamos do oposto, do contrário, do inverso, da faísca. A dialética é o combustível evolutivo.
Evolução em qualquer ambito, seja tecnológico, espiritual, vida em si; deve haver, necessariamente, a prática da dialética. "Mas com quem me abrir a tal ponto, e quem rebateria minhas convicções sem julgar-me erroneamente?", você me pergunta. Com você mesmo, eu te respondo.
Já percebi há muito que dentro de nós formam-se diversas personalidades que são ativadas em cada ocasião particular. Não conscientemente, mas de forma adaptativa.
Isso pode levar a transtornos seríssimos. As vezes a adaptação é feita pela metade, por motivos vários e infinitos mas, de qualquer forma, insuficiente e forçosa.
Tá aí a depressão devorando a alma de tantas pessoas.
O interessante é se valer positivamente dessa multiplicidade adquirida com inúmeras e diversas experiências pelas quais passamos todos os dias durante toda a vida para amadurecermos e evoluirmos com mais sabedoria. Até porque primaveras não quer dizer inteligência. Tem gente que vê o tempo passar e não sai do lugar, outros até retrocedem.
Enfim...
não sou psicóloga e muito menos qualificada para receitar... Sou mera pensante (pretensiosa) e paro por aqui.

sexta-feira, 11 de março de 2011

Garganta seca

Sou muito melhor quando grito do que quando me calo.
Calo, porque tenho medo.
Do começo ao fim da minha garganta fica preso o nome que sufocando agonizante desce seco.
Eu nunca sei pra onde vai, mas de onde vem eu sei bem.
Sei porque é de lá que eu vim. Mas pra onde vou...?
Nunca sei.

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Minha música

Quando transborda, tudo em mim é música
Com as mãos eu canto
O som que minhas cordas bradam.
Poderia alguem sentir?
Ouvir qualquer um pode.
Muitos até gostam...
As notas traduzem o que diz minha alma
Poderia alguem sentir?
A melodia que emana sou eu...
Muito mais eu do que a boca que você beija
Muito mais do que o corpo que você deseja
Você pode sentir?
Ela é essencialmente eu.
Me desnuda, me expõe
Narra minha história, escolhe meus próximos passos
Conta todos os meus segredos.
Sinta-me...
O que eu toco não é o que se ouve
A audição não alcança meus detalhes
O instrumento é exatamente isso
Para me materializar de verdade.

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Piano

O som melancólico do piano não encontrou mais os meus ouvidos.
Perdido trocou, sem querer, as suas notas e exprimiu outra melodia.
Poderia?
Chamou a atenção de minhas memórias auditivas, perdidas, supostamente esquecidas.
Eu já sabia, não se controla as lembranças de uma música vivida.
E o piano e eu voltamos a sorrir e cantar poesias.

Eu sei...

Eu sei que talvez nunca consiga fazer você enxergar através dos meus olhos... não é correto querer te empurrar aqui pra dentro, encaixar a força assim...
Eu sei que tento abraçar o mundo, que gosto do muito, do absurdo, do profundo... não é que eu tenha pressa... é que isso já me foi natural... é fruto.
Eu sei que penso demais em tudo... o “por que” é minha palavra favorita.
Mas eu sei o que não quero e o que me faz bem. Penso só pra tentar me entender também.
Não é só você... faz muito tempo que tento me desvendar além.
Enfim... não é correto querer te moldar aqui dentro.
Mas eu sou teimosa mesmo.
E tento...

Realidade montada

Aqui estou... tão receptiva, disposta, oferecida até... e só.
Que realidade permiti pra mim, meu Deus!
Usei cada novo detalhe para me cercar, me proteger...
Só agora me dei conta de que éramos nós, o tempo todo, meu pior carrasco...
não me permiti ser...
fugi de mim como se pudesse...
Essa caixa em que me enfiei é parte você e por isso não a odeio...
mas é que eu não tenho forma e isso tudo aqui é tão quadrado!
E eu sou tão liquida!
Se ao menos você conseguisse me segurar!
Essas palavras já são minhas gotas derramadas pela borda da nossa realidade montada...
Me engole senão evaporo!
Me bebe pra não perder esse gole!
Me chupa pra melhor sentir o gosto. O meu gosto!
Me ondula! Me agita! Me exagera! Me aproveita!
Ainda estou aqui... tão receptiva, disposta, oferecida até...

A morte do Superman

Pra conseguir o que se quer
Só sendo mesmo um Superman
Lutando até o fim
Encarando o que vier

Vestindo a camisa
Com o S estampado no peito
De fora e de dentro
Onde carrega o seu segredo

Mas depois de tantas lutas
As mais valiosas aventuras
Quebrou as suas juras
E manchou sua alma pura

Deixou de ser super
Abandonou a sua capa
Se escondeu de forma dura
Regeitou a graça dada

Se infiltrou na multidão
Como um pecador qualquer
Disfarça sua solidão
Com qualquer outra mulher

Aprendeu a mentir
Enganar e iludir
Acha o errado engraçado
E normal ter que fingir

Perdeu todo o seu brilho
Deixou de ser especial
Rasgou o S do peito
Se tornou mais um mortal.

Você

Essa incapacidade de escrever pra você, de exteriorizar o que sinto por meio das palavras – estas que me são tão intimas e companheiras fieis das piores noites e dos meus melhores dias, parecem me abandonar quando me ponho diante de um lápis e papel pensando em ti.
Então me restam apenas os sentimentos. Serão estes tão complexos que não existam palavras suficientes ou profundas o bastante para traduzi-los? Ou serão tão perfeitos e auto-suficientes que se explicam por si mesmos, sem que arte alguma possa alcança-los?
Nunca me ocorreu essa falta de expressão. Talvez você cause em mim algo tão novo, incontrolável e inalcançável, pelo menos à minha frágil razão, que extrapole os meus próprios limites.
Deve ser exatamente isso que me liga a você, que me atrai como um imã poderosíssimo e me causa essa vulnerabilidade inconsciente, da qual não pretendo me desprender e, se caso for, jamais tentar entender para não correr o risco de nos tornar comum.

Falta

Eu olhava ao redor e sentia falta...
As folhas nas arvores balançando, empurradas pelo vento
Vento com outro perfume...
Meu estomago se contraía sempre que percebia isso.
Era aterrador pensar no futuro, por isso evitava.
Mesmo possuindo quase tudo para ser feliz não o era.
Exatamente por causa do quase.
Ah, e como eu o odiava.
Sentia falta pulsante do exagero em minha vida
E por isso desesperava em minha alma todos os dias.

Eu olhava ao redor e sentia falta.
O sol tocava minha pele e meus olhos ardiam.
Não enxergava mais o azul.
O céu se tornara um grande sol pra mim.
Nem ao menos nuvens,
Sequer o nublado, aquele azul acinzentado...

Eu olhava ao redor e sentia falta.
A musica ainda vivia em mim
Mas não havia mais como exibi-la.
Canção sem segunda voz é incompleta
E as cordas partidas não mexiam mais.
A presença perturbadora e odiosa do quase
Me davam o tal desespero.
Mas meu espírito se tornara covarde.
Faltou-lhe coragem para se libertar,
As pessoas não entenderiam.
Acomodou-se à matéria.
Continuo a olhar tudo ao redor
E sentir essa falta.

Entrelinhar

Hoje eu não quero refletir sobre coisas difíceis, profundas, complexas...
Hoje eu quero “entrelinhar”...
Quero ser despercebida aos insensíveis, quero desenhar com palavras um sorriso enigmático... quero ser a parábola mal interpretada... as palavras mágicas perdidas num livro antigo...
Hoje eu serei parte você... esse arrepio percorrendo suas costas até beijar sua nuca... serei seu estomago dando vida a borboletas... a música que não sai da sua cabeça...
Hoje não me interessa o significado da vida, as respostas exatas, as soluções de emergência.
Hoje eu só quero “entrelinhar”...
Quero ser o paraíso que você toca quando goza... quero ser a lenda mumificada... A outra face da lua... o milagre no final da estrada...

Ana armada

Ana aprendeu a odiar armaduras
A vida inteira ela tinha vestido a sua
Tão áspera, tão pesada, e dura

Era ali dentro que ela se escondia, guardava todos os seus segredos
Só ali que ela vivia e reprimia os seus desejos
Rasgava suas páginas, mascarava os seus medos

A fazia se sentir protegida
Do mundo, da dor, da vida.
Quanta coisa deixou passar por não saber como sentia

Ana aprendeu a odiar armaduras...
Tudo mudou
Depois da mais poderosa das lutas

Ondas sonoras gloriosas vieram guerrear
Ela preparou seu escudo e sua espada enferrujada
Que ainda não tinha aprendido a manusear

Ondas sonoras vitoriosas começavam a quebrar
Pedaços e cacos de armadura
Ana foi se mostrando devagar

Ondas sonoras calorosas envolveram seu coração
E nada foi tão forte e diferente
Do que aquela sensação

Pela primeira vez em sua vida
Ana era livre
Uma verdadeira guerreira destemida

Ana aprendeu a odiar armaduras
Lutando agora de peito limpo
Corajosa, intensa e pura.

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Manual

Não! Não tente me por numa gaiola
Com o tempo eu pararia de cantar...
Deixe-me voar
E sempre voltarei com saudades.

Não! Não tente me colher
Com o tempo eu murcharia...
Deixe-me florescer ao sol
E poderá sempre sentir meu perfume.

Não! Não tente me condenar
Com o tempo eu perderia a vontade de consertar meu erro...
Deixe-me livre
E farei tudo diferente.

Não! Não tente comprar exclusividade
Com o tempo apagaria o brilho nos meus olhos...
Deixe-me atuar a todo o público
E te farei sorrir sempre.

Sim! Me ame com paixão
Quem sabe com o tempo conquiste minha alma
Então teria todo o resto
E nada eu deixaria faltar.

Nunca! Nunca me apresse
Com a pressão eu desinteressaria
Deixe a vida mostrar o caminho
O que é pra ser, será...

Eu

Tenho fome de vida, de aventuras malucas.
De plenitude e do cheiro de chuva.

Sou filha dos sentimentos
Dos bons e dos ruins.
Sinto vibrar cada movimento
Morte e vida no meu secreto jardim.

Gosto do sabor da adrenalina
E de sentir cada momento
Afinal, que dia a vida termina?
Sigo a melodia com a dança do vento.

Não gosto de adiar a felicidade.
A paciência me tira a liberdade

Espelho

Debruçada sobre os últimos centímetros de terra,
Olhando apenas para o fundo,
Eu segurei minhas lembranças com toda a minha energia.
As únicas portas abertas no meu caminho.
Olhei mais fundo e vi um reflexo.
(O meu?!)
Tinha um olhar opaco e sombrio.
Retribuiu com um sorriso falso o meu espanto.
- “É ilusão”, disse eu.
- “Reflexão”. Imediatamente ouvi um eco saindo do espelho.
Como era horrenda aquela expressão.
Uma mistura de todas as emoções ruins e pensamentos pervertidos.
Observei a figura estranhamente familiar durante um bom tempo.
Quando enfim senti o gosto - as vezes amargo - da liberdade que a verdade proporciona.
Enxerguei a alma cortada, denegrida, suja.
-“Como sou hipócrita!”
-“Hipócrita!”
E então entendi tudo.

Escrever

...e devagar fui tomada, de novo, por aquela sensação estranha que começa no estomago, passa por todo o sistema nervoso e para de repente na garganta ...
-“medo”...
O que eu escreveria dessa vez? O que inconscientemente seria revelado do mais abstruso labirinto de meus delírios?
Então pensando sobre isso enquanto olho o papel branco cheio de linhas vazias, percebo o surgimento de outro sentimento:
-“entusiasmo”...
O anseio de desvendar-me a meus próprios olhos é uma sensação que sempre me deixa eufórica. Mas isso implica exposição também ao mundo. A palavra lançada pode ser pior que a flecha, pois se o arqueiro perder a mira, a vítima tem seu livramento, no entanto, neste caso, todos meus inimigos sabem ler. Porém, mesmo que isso venha a me custar as críticas ignorantes, não supera o prazer do autoconhecimento e da anuência daqueles que partilham devaneios parecidos ou até mesmo dos que me acham espirituosa.
O medo persiste apenas quando as palavras desprendem das linhas e tocam a realidade das minhas mãos pequenas. Quando escrevemos para contar um fato ou expor convicções o medo não existe. Somos firmes, conscientes, idealizadores. Mas quando simplesmente olhamos para o céu ou para o teto vazio e sentimos a necessidade de escrever, aí está o perigo. Não sabemos o que vai sair das pequenas curvas que os dedos fazem com o lápis ou a caneta. É quase impensado, se não fosse o fato de ser controlado por uma parte de nós intangível em estado normal. É como estar em estado de êxtase, sem controle intelectual do que está fazendo. E é nesse ponto que ganha poder de mudar uma vida. Principalmente a minha.
A mudança nem sempre é algo bom. Tudo o que evolui muda, mas nem tudo que muda evolui.
Quando retorno ao estado de “consciência”, e passo a ser a leitora crítica, sempre acabo me invejando ou me descreditando. Nunca sou a premiada, porém se me desaponto, sou sempre eu mesma.
Tenho medo de me proscrever...

Pesadelo real

Hoje sonhei com seu sorriso
Tal qual como era...
Sem rugas em torno dos seus olhos
Nem manchas na face direita

Sua pele era macia e cheirosa
Tal qual como era...
Não tinha essas cicatrizes
Nem feridas meio abertas

Seus cabelos eram tão dourados e radiantes
Tal qual como eram...
Não estavam embaraçados
Tão pouco tão opacos

Seus dentes eram tão brancos
Tal qual como eram...
Sem esse amarelado na parte de baixo
Nem escoriações acima, corroendo.

Hoje sonhei com seu sorriso
Tal qual como era...
Lembrei da sua pureza
Lembrei de uma alma completa

domingo, 14 de novembro de 2010

Sobre o amor...

É quando todo o resto do mundo perde - ou ganha - o sentido quando me encontro com você. É quando morro de ansiedade para que o dia passe, para poder estar ao seu lado.É quando qualquer lugar não tem nenhuma importância, basta estar perto de você.É quando sinto seu cheiro, e o meu coração acelera.É quando meu coração aperta e o peito parece explodir de felicidade toda vez que te vejo sorrindo.
É quando acordo e a primeira coisa que desejo é ouvir sua voz, e quando me deito, também.
É quando sinto o mundo parar e estar totalmente segura quando você me abraça.É saber que você me completa naquilo que importa.
Amor é muito mais que estar satisfeito.
É muito mais do que estar simplesmente bem.
Amor é você...e eu...perfeitamente.
'

Razão maior

Em silêncio tento ouvir o vento
Ele sabe onde fazer a curva
Mas só ouço esse tormento
Vivo uma eterna luta

Uma luta violenta
Silenciosa e dura
Solitária vou sedenta
Procurando a minha cura

Minha cura é meu alimento
Arte, poesia e música
É como me reinvento
Covarde, escondo minha culpa

Culpa que hora e meia me enfrenta
Me faz lembrar de minha busca
Razão maior de quem tenta
Permanecer de alma pura.

Dura entrega

Eu, todas as noites, escrevia poemas em minha cabeça enquanto olhava o passado brilhando no céu. Sentia o vento fresco nos meus cabelos e nos meus pulmões. A sensação era de unidade universal. Uma paz que tomava conta de tudo, sensação de equilíbrio, tinha gosto de vida.
Nada era impossível. Os caminhos se ofereciam diante de mim. Eu não tinha medo de nada.

Ontem eu acordei atrasada para mais um dia igual ao de hoje e de meses atrás. O passado continuava a brilhar no céu noturno, me convidando para me contar suas maravilhas, mas estou cansada demais para levantar da cama.
Hoje escrevo poemas no papel mesmo, e acho isso uma coisa boa. Como se alguém precisasse ler tudo isso.
Sinto como se eu estivesse entregando minha vida para duramente não viver.

Surto

De tempos em tempos me ocorre esse surto.
O corpo já não me basta
e saio de mim sedenta de vida.
Olfato, paladar, visão, audição já não me servem para muito. Até mesmo o tato se torna indiferente.

Meu castigo: a limitação do corpo.
Não posso mais ser lá fora,
então sou apenas aqui dentro nessa solidão eterna e latente. Percorro meus dedos e encontro a tinta,
escorro no papel e ganho espaço,
esse apenas, mas suficiente para me esvair e me expor.

O corpo sorri sempre, acompanha, ama, fala.
A alma sentada tudo assiste, nada aprende, só espera.
'

A desenhista

'Era um vez... uma menina que capturava sonhos.
'Ela dormia bem cedo e sempre escondia sua rede embaixo do travesseiro.
'Não deixava escapar um sequer.
'Ao acordar, sempre com um sorriso glorioso e as palmas de suas paredes, preparava o cárcere de seu prisioneiro.
'As cortinas achavam graça, e enquanto cochichavam, o vento conseguia atravessar-lhes para beijar a menina com seus lábios frios e matutinos. Tinha o cheiro da chuva, mas a menina não enciumava. Ele era seu melhor amigo e maior fã, sempre levantava seu ânimo quando, cansada das várias noites lutando para não deixar o sonho escapar.
'A prisão era perfeita, branca, limpa e do tamanho ideal.
'A menina sentava bem em frente à janela, só para fazer inveja às cortinas e preparava-se para a passagem do sonho até sua nova moradia.
'O sol não escondia sua ansiedade e chegava cada vez mais perto para ver tudo melhor.
'A menina sorria com a boca e com os olhos, mas principalmente com as mãos segurando o sonho.
'A passagem se abriu, era fina e longa, com uma ponta bem feita e de cor grafite.
'De traço em traço o sonho entrava no retângulo alvo. E devagar perdia o medo. Percorria todo o seu novo aposento, e percebia ser observado. A vaidade lhe crescia, e encorajado, se exibia.
'No fim, já perfeitamente emoldurado, todos riam e se encantavam

Unidade Infinita

' Havia dias que já acordava assim.
Enxergava sua condição esdrúxula mais do que de costume e detestava.
Todos tentando mostrar sua individualidade, muitas vezes de forma ridícula, mas sempre querendo provar que são diferentes, únicos e insubstituíveis.
Ela, todos os dias, só tentava ser normal.
Sua peculiaridade a irritava profundamente, tanto que adorava passar horas em frente ao espelho, pra se deliciar com o reflexo do seu exterior e ter certeza de que era humana.
O espelho não reflete a alma ou a historia de ninguém.
É apenas o externo, feio ou bonito, tão real e superficial que podia, durante esses momentos, esquecer-se da sua infinita unidade.

'