sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Minha música

Quando transborda, tudo em mim é música
Com as mãos eu canto
O som que minhas cordas bradam.
Poderia alguem sentir?
Ouvir qualquer um pode.
Muitos até gostam...
As notas traduzem o que diz minha alma
Poderia alguem sentir?
A melodia que emana sou eu...
Muito mais eu do que a boca que você beija
Muito mais do que o corpo que você deseja
Você pode sentir?
Ela é essencialmente eu.
Me desnuda, me expõe
Narra minha história, escolhe meus próximos passos
Conta todos os meus segredos.
Sinta-me...
O que eu toco não é o que se ouve
A audição não alcança meus detalhes
O instrumento é exatamente isso
Para me materializar de verdade.

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Piano

O som melancólico do piano não encontrou mais os meus ouvidos.
Perdido trocou, sem querer, as suas notas e exprimiu outra melodia.
Poderia?
Chamou a atenção de minhas memórias auditivas, perdidas, supostamente esquecidas.
Eu já sabia, não se controla as lembranças de uma música vivida.
E o piano e eu voltamos a sorrir e cantar poesias.

Eu sei...

Eu sei que talvez nunca consiga fazer você enxergar através dos meus olhos... não é correto querer te empurrar aqui pra dentro, encaixar a força assim...
Eu sei que tento abraçar o mundo, que gosto do muito, do absurdo, do profundo... não é que eu tenha pressa... é que isso já me foi natural... é fruto.
Eu sei que penso demais em tudo... o “por que” é minha palavra favorita.
Mas eu sei o que não quero e o que me faz bem. Penso só pra tentar me entender também.
Não é só você... faz muito tempo que tento me desvendar além.
Enfim... não é correto querer te moldar aqui dentro.
Mas eu sou teimosa mesmo.
E tento...

Realidade montada

Aqui estou... tão receptiva, disposta, oferecida até... e só.
Que realidade permiti pra mim, meu Deus!
Usei cada novo detalhe para me cercar, me proteger...
Só agora me dei conta de que éramos nós, o tempo todo, meu pior carrasco...
não me permiti ser...
fugi de mim como se pudesse...
Essa caixa em que me enfiei é parte você e por isso não a odeio...
mas é que eu não tenho forma e isso tudo aqui é tão quadrado!
E eu sou tão liquida!
Se ao menos você conseguisse me segurar!
Essas palavras já são minhas gotas derramadas pela borda da nossa realidade montada...
Me engole senão evaporo!
Me bebe pra não perder esse gole!
Me chupa pra melhor sentir o gosto. O meu gosto!
Me ondula! Me agita! Me exagera! Me aproveita!
Ainda estou aqui... tão receptiva, disposta, oferecida até...

A morte do Superman

Pra conseguir o que se quer
Só sendo mesmo um Superman
Lutando até o fim
Encarando o que vier

Vestindo a camisa
Com o S estampado no peito
De fora e de dentro
Onde carrega o seu segredo

Mas depois de tantas lutas
As mais valiosas aventuras
Quebrou as suas juras
E manchou sua alma pura

Deixou de ser super
Abandonou a sua capa
Se escondeu de forma dura
Regeitou a graça dada

Se infiltrou na multidão
Como um pecador qualquer
Disfarça sua solidão
Com qualquer outra mulher

Aprendeu a mentir
Enganar e iludir
Acha o errado engraçado
E normal ter que fingir

Perdeu todo o seu brilho
Deixou de ser especial
Rasgou o S do peito
Se tornou mais um mortal.

Você

Essa incapacidade de escrever pra você, de exteriorizar o que sinto por meio das palavras – estas que me são tão intimas e companheiras fieis das piores noites e dos meus melhores dias, parecem me abandonar quando me ponho diante de um lápis e papel pensando em ti.
Então me restam apenas os sentimentos. Serão estes tão complexos que não existam palavras suficientes ou profundas o bastante para traduzi-los? Ou serão tão perfeitos e auto-suficientes que se explicam por si mesmos, sem que arte alguma possa alcança-los?
Nunca me ocorreu essa falta de expressão. Talvez você cause em mim algo tão novo, incontrolável e inalcançável, pelo menos à minha frágil razão, que extrapole os meus próprios limites.
Deve ser exatamente isso que me liga a você, que me atrai como um imã poderosíssimo e me causa essa vulnerabilidade inconsciente, da qual não pretendo me desprender e, se caso for, jamais tentar entender para não correr o risco de nos tornar comum.

Falta

Eu olhava ao redor e sentia falta...
As folhas nas arvores balançando, empurradas pelo vento
Vento com outro perfume...
Meu estomago se contraía sempre que percebia isso.
Era aterrador pensar no futuro, por isso evitava.
Mesmo possuindo quase tudo para ser feliz não o era.
Exatamente por causa do quase.
Ah, e como eu o odiava.
Sentia falta pulsante do exagero em minha vida
E por isso desesperava em minha alma todos os dias.

Eu olhava ao redor e sentia falta.
O sol tocava minha pele e meus olhos ardiam.
Não enxergava mais o azul.
O céu se tornara um grande sol pra mim.
Nem ao menos nuvens,
Sequer o nublado, aquele azul acinzentado...

Eu olhava ao redor e sentia falta.
A musica ainda vivia em mim
Mas não havia mais como exibi-la.
Canção sem segunda voz é incompleta
E as cordas partidas não mexiam mais.
A presença perturbadora e odiosa do quase
Me davam o tal desespero.
Mas meu espírito se tornara covarde.
Faltou-lhe coragem para se libertar,
As pessoas não entenderiam.
Acomodou-se à matéria.
Continuo a olhar tudo ao redor
E sentir essa falta.

Entrelinhar

Hoje eu não quero refletir sobre coisas difíceis, profundas, complexas...
Hoje eu quero “entrelinhar”...
Quero ser despercebida aos insensíveis, quero desenhar com palavras um sorriso enigmático... quero ser a parábola mal interpretada... as palavras mágicas perdidas num livro antigo...
Hoje eu serei parte você... esse arrepio percorrendo suas costas até beijar sua nuca... serei seu estomago dando vida a borboletas... a música que não sai da sua cabeça...
Hoje não me interessa o significado da vida, as respostas exatas, as soluções de emergência.
Hoje eu só quero “entrelinhar”...
Quero ser o paraíso que você toca quando goza... quero ser a lenda mumificada... A outra face da lua... o milagre no final da estrada...

Ana armada

Ana aprendeu a odiar armaduras
A vida inteira ela tinha vestido a sua
Tão áspera, tão pesada, e dura

Era ali dentro que ela se escondia, guardava todos os seus segredos
Só ali que ela vivia e reprimia os seus desejos
Rasgava suas páginas, mascarava os seus medos

A fazia se sentir protegida
Do mundo, da dor, da vida.
Quanta coisa deixou passar por não saber como sentia

Ana aprendeu a odiar armaduras...
Tudo mudou
Depois da mais poderosa das lutas

Ondas sonoras gloriosas vieram guerrear
Ela preparou seu escudo e sua espada enferrujada
Que ainda não tinha aprendido a manusear

Ondas sonoras vitoriosas começavam a quebrar
Pedaços e cacos de armadura
Ana foi se mostrando devagar

Ondas sonoras calorosas envolveram seu coração
E nada foi tão forte e diferente
Do que aquela sensação

Pela primeira vez em sua vida
Ana era livre
Uma verdadeira guerreira destemida

Ana aprendeu a odiar armaduras
Lutando agora de peito limpo
Corajosa, intensa e pura.

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Manual

Não! Não tente me por numa gaiola
Com o tempo eu pararia de cantar...
Deixe-me voar
E sempre voltarei com saudades.

Não! Não tente me colher
Com o tempo eu murcharia...
Deixe-me florescer ao sol
E poderá sempre sentir meu perfume.

Não! Não tente me condenar
Com o tempo eu perderia a vontade de consertar meu erro...
Deixe-me livre
E farei tudo diferente.

Não! Não tente comprar exclusividade
Com o tempo apagaria o brilho nos meus olhos...
Deixe-me atuar a todo o público
E te farei sorrir sempre.

Sim! Me ame com paixão
Quem sabe com o tempo conquiste minha alma
Então teria todo o resto
E nada eu deixaria faltar.

Nunca! Nunca me apresse
Com a pressão eu desinteressaria
Deixe a vida mostrar o caminho
O que é pra ser, será...

Eu

Tenho fome de vida, de aventuras malucas.
De plenitude e do cheiro de chuva.

Sou filha dos sentimentos
Dos bons e dos ruins.
Sinto vibrar cada movimento
Morte e vida no meu secreto jardim.

Gosto do sabor da adrenalina
E de sentir cada momento
Afinal, que dia a vida termina?
Sigo a melodia com a dança do vento.

Não gosto de adiar a felicidade.
A paciência me tira a liberdade

Espelho

Debruçada sobre os últimos centímetros de terra,
Olhando apenas para o fundo,
Eu segurei minhas lembranças com toda a minha energia.
As únicas portas abertas no meu caminho.
Olhei mais fundo e vi um reflexo.
(O meu?!)
Tinha um olhar opaco e sombrio.
Retribuiu com um sorriso falso o meu espanto.
- “É ilusão”, disse eu.
- “Reflexão”. Imediatamente ouvi um eco saindo do espelho.
Como era horrenda aquela expressão.
Uma mistura de todas as emoções ruins e pensamentos pervertidos.
Observei a figura estranhamente familiar durante um bom tempo.
Quando enfim senti o gosto - as vezes amargo - da liberdade que a verdade proporciona.
Enxerguei a alma cortada, denegrida, suja.
-“Como sou hipócrita!”
-“Hipócrita!”
E então entendi tudo.

Escrever

...e devagar fui tomada, de novo, por aquela sensação estranha que começa no estomago, passa por todo o sistema nervoso e para de repente na garganta ...
-“medo”...
O que eu escreveria dessa vez? O que inconscientemente seria revelado do mais abstruso labirinto de meus delírios?
Então pensando sobre isso enquanto olho o papel branco cheio de linhas vazias, percebo o surgimento de outro sentimento:
-“entusiasmo”...
O anseio de desvendar-me a meus próprios olhos é uma sensação que sempre me deixa eufórica. Mas isso implica exposição também ao mundo. A palavra lançada pode ser pior que a flecha, pois se o arqueiro perder a mira, a vítima tem seu livramento, no entanto, neste caso, todos meus inimigos sabem ler. Porém, mesmo que isso venha a me custar as críticas ignorantes, não supera o prazer do autoconhecimento e da anuência daqueles que partilham devaneios parecidos ou até mesmo dos que me acham espirituosa.
O medo persiste apenas quando as palavras desprendem das linhas e tocam a realidade das minhas mãos pequenas. Quando escrevemos para contar um fato ou expor convicções o medo não existe. Somos firmes, conscientes, idealizadores. Mas quando simplesmente olhamos para o céu ou para o teto vazio e sentimos a necessidade de escrever, aí está o perigo. Não sabemos o que vai sair das pequenas curvas que os dedos fazem com o lápis ou a caneta. É quase impensado, se não fosse o fato de ser controlado por uma parte de nós intangível em estado normal. É como estar em estado de êxtase, sem controle intelectual do que está fazendo. E é nesse ponto que ganha poder de mudar uma vida. Principalmente a minha.
A mudança nem sempre é algo bom. Tudo o que evolui muda, mas nem tudo que muda evolui.
Quando retorno ao estado de “consciência”, e passo a ser a leitora crítica, sempre acabo me invejando ou me descreditando. Nunca sou a premiada, porém se me desaponto, sou sempre eu mesma.
Tenho medo de me proscrever...

Pesadelo real

Hoje sonhei com seu sorriso
Tal qual como era...
Sem rugas em torno dos seus olhos
Nem manchas na face direita

Sua pele era macia e cheirosa
Tal qual como era...
Não tinha essas cicatrizes
Nem feridas meio abertas

Seus cabelos eram tão dourados e radiantes
Tal qual como eram...
Não estavam embaraçados
Tão pouco tão opacos

Seus dentes eram tão brancos
Tal qual como eram...
Sem esse amarelado na parte de baixo
Nem escoriações acima, corroendo.

Hoje sonhei com seu sorriso
Tal qual como era...
Lembrei da sua pureza
Lembrei de uma alma completa

domingo, 14 de novembro de 2010

Sobre o amor...

É quando todo o resto do mundo perde - ou ganha - o sentido quando me encontro com você. É quando morro de ansiedade para que o dia passe, para poder estar ao seu lado.É quando qualquer lugar não tem nenhuma importância, basta estar perto de você.É quando sinto seu cheiro, e o meu coração acelera.É quando meu coração aperta e o peito parece explodir de felicidade toda vez que te vejo sorrindo.
É quando acordo e a primeira coisa que desejo é ouvir sua voz, e quando me deito, também.
É quando sinto o mundo parar e estar totalmente segura quando você me abraça.É saber que você me completa naquilo que importa.
Amor é muito mais que estar satisfeito.
É muito mais do que estar simplesmente bem.
Amor é você...e eu...perfeitamente.
'

Razão maior

Em silêncio tento ouvir o vento
Ele sabe onde fazer a curva
Mas só ouço esse tormento
Vivo uma eterna luta

Uma luta violenta
Silenciosa e dura
Solitária vou sedenta
Procurando a minha cura

Minha cura é meu alimento
Arte, poesia e música
É como me reinvento
Covarde, escondo minha culpa

Culpa que hora e meia me enfrenta
Me faz lembrar de minha busca
Razão maior de quem tenta
Permanecer de alma pura.

Dura entrega

Eu, todas as noites, escrevia poemas em minha cabeça enquanto olhava o passado brilhando no céu. Sentia o vento fresco nos meus cabelos e nos meus pulmões. A sensação era de unidade universal. Uma paz que tomava conta de tudo, sensação de equilíbrio, tinha gosto de vida.
Nada era impossível. Os caminhos se ofereciam diante de mim. Eu não tinha medo de nada.

Ontem eu acordei atrasada para mais um dia igual ao de hoje e de meses atrás. O passado continuava a brilhar no céu noturno, me convidando para me contar suas maravilhas, mas estou cansada demais para levantar da cama.
Hoje escrevo poemas no papel mesmo, e acho isso uma coisa boa. Como se alguém precisasse ler tudo isso.
Sinto como se eu estivesse entregando minha vida para duramente não viver.

Surto

De tempos em tempos me ocorre esse surto.
O corpo já não me basta
e saio de mim sedenta de vida.
Olfato, paladar, visão, audição já não me servem para muito. Até mesmo o tato se torna indiferente.

Meu castigo: a limitação do corpo.
Não posso mais ser lá fora,
então sou apenas aqui dentro nessa solidão eterna e latente. Percorro meus dedos e encontro a tinta,
escorro no papel e ganho espaço,
esse apenas, mas suficiente para me esvair e me expor.

O corpo sorri sempre, acompanha, ama, fala.
A alma sentada tudo assiste, nada aprende, só espera.
'

A desenhista

'Era um vez... uma menina que capturava sonhos.
'Ela dormia bem cedo e sempre escondia sua rede embaixo do travesseiro.
'Não deixava escapar um sequer.
'Ao acordar, sempre com um sorriso glorioso e as palmas de suas paredes, preparava o cárcere de seu prisioneiro.
'As cortinas achavam graça, e enquanto cochichavam, o vento conseguia atravessar-lhes para beijar a menina com seus lábios frios e matutinos. Tinha o cheiro da chuva, mas a menina não enciumava. Ele era seu melhor amigo e maior fã, sempre levantava seu ânimo quando, cansada das várias noites lutando para não deixar o sonho escapar.
'A prisão era perfeita, branca, limpa e do tamanho ideal.
'A menina sentava bem em frente à janela, só para fazer inveja às cortinas e preparava-se para a passagem do sonho até sua nova moradia.
'O sol não escondia sua ansiedade e chegava cada vez mais perto para ver tudo melhor.
'A menina sorria com a boca e com os olhos, mas principalmente com as mãos segurando o sonho.
'A passagem se abriu, era fina e longa, com uma ponta bem feita e de cor grafite.
'De traço em traço o sonho entrava no retângulo alvo. E devagar perdia o medo. Percorria todo o seu novo aposento, e percebia ser observado. A vaidade lhe crescia, e encorajado, se exibia.
'No fim, já perfeitamente emoldurado, todos riam e se encantavam

Unidade Infinita

' Havia dias que já acordava assim.
Enxergava sua condição esdrúxula mais do que de costume e detestava.
Todos tentando mostrar sua individualidade, muitas vezes de forma ridícula, mas sempre querendo provar que são diferentes, únicos e insubstituíveis.
Ela, todos os dias, só tentava ser normal.
Sua peculiaridade a irritava profundamente, tanto que adorava passar horas em frente ao espelho, pra se deliciar com o reflexo do seu exterior e ter certeza de que era humana.
O espelho não reflete a alma ou a historia de ninguém.
É apenas o externo, feio ou bonito, tão real e superficial que podia, durante esses momentos, esquecer-se da sua infinita unidade.

'