terça-feira, 24 de setembro de 2013

A Arte da Felicidade - Dalai-Lama

Todos os dias deparamos com inúmeras decisões e escolhas.(...)
Em todos os séculos, homens e mulheres dedicaram grande esforço à tentativa de definir o papel adequado que o prazer desempenharia na nossa vida – uma verdadeira legião de filósofos, teólogos e psicólogos, todos estudando nossa ligação com o prazer.(...)
Nenhum de nós realmente precisa de filósofos gregos, de psicanalistas do séc. XIX ou de cientistas do séc. XX para nos ajudar a entender o prazer. Nós sabemos quando sentimos. Nós o reconhecemos no toque ou no sorriso de um ser amado, na delícia de um banho quente de banheira numa tarde fria e chuvosa, na beleza de um pôr-do-sol. Entretanto, muitos de nós também conhecem o prazer no arroubo frenético da cocaína, no êxtase da heroína, na folia de uma bebedeira, na delícia do sexo sem restrições, na euforia de uma temporada de sorte em Las Vegas. Esses também são prazeres muito verdadeiros – prazeres com os quais muitos na nossa sociedade precisam aprender a conviver.
Embora não haja soluções fáceis para evitar esses prazeres destrutivos, felizmente temos por onde começar: o simples lembrete de que o que estamos procurando na vida é a felicidade. Como o Dalai-Lama salienta, esse é um fato inconfundível. Se abordarmos nossas escolhas na vida tendo isso em mente, será mais fácil renunciar a atividades que acabam sendo prejudiciais, mesmo que elas nos proporcionem um prazer momentâneo. O motivo pelo qual costuma ser tão difícil adotar o “É só dizer não!” encontra-se na palavra “não”. Essa abordagem está associada a uma noção de rejeitar algo, de desistir de algo, de nos negarmos algo.
Existe, porém, um enfoque melhor: enquadrar qualquer decisão que enfrentemos com a pergunta “Será que ela me trará felicidade ou apenas prazer?”. Essa simples pergunta pode ser uma poderosa ferramenta para nos ajudar a gerir com habilidade todas as áreas da nossa vida. Ela permite que as coisas sejam vistas de um novo ângulo. Lidar com nossas decisões e escolhas diárias com essa questão em mente desvia o foco daquilo que estamos nos negando para aquilo que estamos buscando – a felicidade. Uma felicidade definida pelo Dalai-Lama como estável e persistente, um estado de felicidade que, apesar dos altos e baixos da vida e das flutuações normais do humor, permanece como parte da própria matriz do nosso ser. A partir dessa perspectiva, é mais fácil tomar a “decisão acertada” porque estamos agindo para dar algo a nós mesmos, não para negar ou recusar algo a nós mesmos – uma atitude de movimento em direção a algo, não de afastamento; uma atitude de união com a vida, não de rejeição a ela. Essa percepção subjacente de estarmos indo na direção da felicidade pode exercer um impacto profundo. Ela nos torna mais receptivos, mais abertos, para a alegria de viver.