quarta-feira, 28 de setembro de 2011

O FIM

Eu conseguia ouvir as batidas apressadas e pesadas do seu coração... ou seriam do meu?
A boca seca e os olhos inquietos...
Quem estaria mais desesperado?
E eu ali... esperando uma corda, um salva-vidas, qualquer coisa que me segurasse...
Mas já fazia muito tempo que eu vagava à deriva e sequer tinha percebido.
As lágrimas não paravam e nem diminuíam.
As mãos frias e trêmulas... lembrei do dia em que nos conhecemos...
Senti meu peito rasgando. O sangue que ainda circulava em meu corpo parecia ser ácido... corrosivo.
Sua boca se mexia, mas nada fazia sentido pra mim...
Tudo estava pilhado no chão e verdades atingiam minha cabeça com tanta violência...
De repente tudo ficou cinza e lento... você se tornou um de meus desenhos borrados, animado grotescamente numa história de terror...
Talvez a falta de ar estivesse me fazendo delirar... tudo estava em rotação acelerada no meu estômago...
Mas foi quando as palavras começaram a se repetir que eu percebi que nada mais poderia ser dito.
A lei do retorno riu de mim...
Tripudiou vitoriosa.

sábado, 2 de julho de 2011

Ana vai ao analista

Eu vinha sofrendo dores incalculáveis Doutor...
Não precisa me chamar de Doutor, Ana. Já somos amigos há tanto tempo.
Tá Fred. Me desculpe. É que hoje... hoje algo mudou.
Algo?
É! Não sei exatamente o que é, mas mudou.
Hum... você falava das dores...
Sim! Incalculáveis! Realmente horríveis...
Dores onde, Ana?
Na cara, no fígado, no pé, em tudo, Doutor!
Uma dor na alma você quer dizer...
E que atingia todo o corpo. Pode isso?
Pode. E é muito comum.
...
Mas você dizia que mudou...
Sim! Me sinto completamente em paz. O que significa isso, Dou... Fred?
Vamos descobrir! Você não sente mais dor alguma? Nada?
Nada! Me sinto bem, me sinto leve! Isso é positivo, não é?
É maravilhoso, Ana! Algo que lhe pesava o espírito não existe mais!
Mas é claro que existe! Existe! Só que... deixou de ser um peso.
Então... parece que você já sabe o que é.
Acho que é o amor. Parou de doer.
Mas, Ana, então o amor doía e depois parou de doer? O que houve? Você perdeu alguém e reencontrou?
Sim... foi isso mesmo!
Conte pra mim, Ana. Quem é?
Eu mesma, Doutor. Eu...

sábado, 4 de junho de 2011

Todo dia...

Era meu olhar que pesava a tarde lânguida assistida
Escancarando a medonha dor sentida
Encostada na janela...
"Era ela... sempre ela..."
A noite saudosa invadia
Ressuscitando lembranças malditas
Todo dia... Todo dia...
Ao menos a escuridão escondia.

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Historinha



Eu nasci do vento, pendendo numa balança
Suspirando a esperança
De ter, um dia, uma grande história pra contar

Eu vim crescendo, aprendendo os passos da dança
Formando minha própria banda
Com instrumentos que eu mesma aprendi a tocar

Me vi sofrendo, errei, escorreguei  na lama
Dominada por tantas lembranças
Que me empenhei tanto em sufocar

Hoje enfrento, conquistei meu escudo e lança
A paciência e a temperança
Já fazem parte do meu caminhar.

"Puro"

O ar pesado e quente que me circunda é meu. É o mesmo que entra e sai.
A melancolia que meus olhos projetam é minha. É a mesma que produzo e absorvo.
Esse tom avermelhado é puramente meu. Puramente é só modo de dizer. Não há nada de imaculado neste mundo, nem na vida, muito menos em mim.
Tenho tédio de olhar para os rostos vazios das pessoas vazias.
Tédio de ouvi-las falar sobre assuntos vazios e rirem disso.
Morro de tédio de seus copos cheios e suas almas vazias.
Seus cigarros nojentos cheios e suas idéias vazias.
Não que eu me considere melhor. Talvez eu seja mesmo muito pior. Não consigo me adaptar.
Sofro de individualismo. Ou velhice. Ou recaída depressiva.
Quase certeza que é “puro” tédio.

Dor Cantada

Já vou...
Meu caminho é certo e reto
Não posso parar
Pra esperar você entender que sem você por perto
Minha vida é doce inferno

Já vou...
Você não precisa entender
Agora é tarde
Não se explica o que fazer
A um coração que já não arde
Pra quê?

Estou indo
Com a metade do meu riso doído
Molhado com o veneno salgado
Que é expelido de um antigo pedido
Tão duramente sufocado e
Perdido...

Tchau...
Não haverá arrependimentos
Não dessa vez
Você não permitiu a minha entrega
Esquecimento
É pra onde levo você
Enterrarei esse amor até morrer
Andar...

terça-feira, 26 de abril de 2011

Multipersonalidades e a dialética

 Eu sempre me interessei por textos que começam com a palavra "eu". A subjetividade dos outros é, contraditoriamente, a melhor forma de conhecer a minha própria. Seja por semelhança, seja por relação ou por diferença. Alívio no primeiro caso, sustentação no segundo e auto-afirmação no terceiro.
O 3º é perigosíssimo quando encarado da forma negativa, considerando o desigual como ameaça, o que muita gente acaba fazendo sem imaginar o quanto necessitamos do oposto, do contrário, do inverso, da faísca. A dialética é o combustível evolutivo.
Evolução em qualquer ambito, seja tecnológico, espiritual, vida em si; deve haver, necessariamente, a prática da dialética. "Mas com quem me abrir a tal ponto, e quem rebateria minhas convicções sem julgar-me erroneamente?", você me pergunta. Com você mesmo, eu te respondo.
Já percebi há muito que dentro de nós formam-se diversas personalidades que são ativadas em cada ocasião particular. Não conscientemente, mas de forma adaptativa.
Isso pode levar a transtornos seríssimos. As vezes a adaptação é feita pela metade, por motivos vários e infinitos mas, de qualquer forma, insuficiente e forçosa.
Tá aí a depressão devorando a alma de tantas pessoas.
O interessante é se valer positivamente dessa multiplicidade adquirida com inúmeras e diversas experiências pelas quais passamos todos os dias durante toda a vida para amadurecermos e evoluirmos com mais sabedoria. Até porque primaveras não quer dizer inteligência. Tem gente que vê o tempo passar e não sai do lugar, outros até retrocedem.
Enfim...
não sou psicóloga e muito menos qualificada para receitar... Sou mera pensante (pretensiosa) e paro por aqui.

sexta-feira, 11 de março de 2011

Garganta seca

Sou muito melhor quando grito do que quando me calo.
Calo, porque tenho medo.
Do começo ao fim da minha garganta fica preso o nome que sufocando agonizante desce seco.
Eu nunca sei pra onde vai, mas de onde vem eu sei bem.
Sei porque é de lá que eu vim. Mas pra onde vou...?
Nunca sei.