segunda-feira, 7 de julho de 2014


As vezes não durmo. E essa inquietação arrebatadora me sufoca a garganta e os dedos.
Nos dedos pulsam as últimas veias do ego. É onde se encontra a ponta do cordão-umbilical ligado as minhas entranhas. Parindo as palavras que ousei fecundar. E já que as palavras ditas nem sempre são lembradas, escrevo. Escrevo como se fosse a minha última oportunidade de me expressar nesse mundo.

As palavras são mais doces quando lidas. Pelo menos sempre tive a impressão de que a qualquer momento podemos usar o tom errado de voz, tanto consciente quanto inconscientemente. Também pode me parecer mais doce pela maneira como imagino as palavras entrando pelo globo ocular de quem cria e devora mentalmente as linhas e suspira em sua imaginação e na minha. Como se todo aquele que escreve o fizesse pelos mesmos motivos meus.
... quais são meus propósitos?

Sinto que de tempos em tempos engulo um mundo. E esse caminho entre a boca e a garganta, que aparenta ser tão curto, carrega todos os meus segredos. Como se esse trecho não pertencesse apenas a mim, mas fosse minha unificação com o mundo. Ao abrir bem a boca a passagem fica livre, minhas mesmo são só as paredes revestidas de segredos. E o mundo as toca, me fazendo sentir absolvida.

Esse mundo é feito das lições do último ciclo fechado. E como pesa. Não desliza, rasteja. É seco e amargo. Mas engoli-lo vale toda a pena. Submeto-me. Meus propósitos são dois: encontrar-me em mim e alcançar minha redenção (egoísta e contraditória que sou).