terça-feira, 16 de novembro de 2010

Manual

Não! Não tente me por numa gaiola
Com o tempo eu pararia de cantar...
Deixe-me voar
E sempre voltarei com saudades.

Não! Não tente me colher
Com o tempo eu murcharia...
Deixe-me florescer ao sol
E poderá sempre sentir meu perfume.

Não! Não tente me condenar
Com o tempo eu perderia a vontade de consertar meu erro...
Deixe-me livre
E farei tudo diferente.

Não! Não tente comprar exclusividade
Com o tempo apagaria o brilho nos meus olhos...
Deixe-me atuar a todo o público
E te farei sorrir sempre.

Sim! Me ame com paixão
Quem sabe com o tempo conquiste minha alma
Então teria todo o resto
E nada eu deixaria faltar.

Nunca! Nunca me apresse
Com a pressão eu desinteressaria
Deixe a vida mostrar o caminho
O que é pra ser, será...

Eu

Tenho fome de vida, de aventuras malucas.
De plenitude e do cheiro de chuva.

Sou filha dos sentimentos
Dos bons e dos ruins.
Sinto vibrar cada movimento
Morte e vida no meu secreto jardim.

Gosto do sabor da adrenalina
E de sentir cada momento
Afinal, que dia a vida termina?
Sigo a melodia com a dança do vento.

Não gosto de adiar a felicidade.
A paciência me tira a liberdade

Espelho

Debruçada sobre os últimos centímetros de terra,
Olhando apenas para o fundo,
Eu segurei minhas lembranças com toda a minha energia.
As únicas portas abertas no meu caminho.
Olhei mais fundo e vi um reflexo.
(O meu?!)
Tinha um olhar opaco e sombrio.
Retribuiu com um sorriso falso o meu espanto.
- “É ilusão”, disse eu.
- “Reflexão”. Imediatamente ouvi um eco saindo do espelho.
Como era horrenda aquela expressão.
Uma mistura de todas as emoções ruins e pensamentos pervertidos.
Observei a figura estranhamente familiar durante um bom tempo.
Quando enfim senti o gosto - as vezes amargo - da liberdade que a verdade proporciona.
Enxerguei a alma cortada, denegrida, suja.
-“Como sou hipócrita!”
-“Hipócrita!”
E então entendi tudo.

Escrever

...e devagar fui tomada, de novo, por aquela sensação estranha que começa no estomago, passa por todo o sistema nervoso e para de repente na garganta ...
-“medo”...
O que eu escreveria dessa vez? O que inconscientemente seria revelado do mais abstruso labirinto de meus delírios?
Então pensando sobre isso enquanto olho o papel branco cheio de linhas vazias, percebo o surgimento de outro sentimento:
-“entusiasmo”...
O anseio de desvendar-me a meus próprios olhos é uma sensação que sempre me deixa eufórica. Mas isso implica exposição também ao mundo. A palavra lançada pode ser pior que a flecha, pois se o arqueiro perder a mira, a vítima tem seu livramento, no entanto, neste caso, todos meus inimigos sabem ler. Porém, mesmo que isso venha a me custar as críticas ignorantes, não supera o prazer do autoconhecimento e da anuência daqueles que partilham devaneios parecidos ou até mesmo dos que me acham espirituosa.
O medo persiste apenas quando as palavras desprendem das linhas e tocam a realidade das minhas mãos pequenas. Quando escrevemos para contar um fato ou expor convicções o medo não existe. Somos firmes, conscientes, idealizadores. Mas quando simplesmente olhamos para o céu ou para o teto vazio e sentimos a necessidade de escrever, aí está o perigo. Não sabemos o que vai sair das pequenas curvas que os dedos fazem com o lápis ou a caneta. É quase impensado, se não fosse o fato de ser controlado por uma parte de nós intangível em estado normal. É como estar em estado de êxtase, sem controle intelectual do que está fazendo. E é nesse ponto que ganha poder de mudar uma vida. Principalmente a minha.
A mudança nem sempre é algo bom. Tudo o que evolui muda, mas nem tudo que muda evolui.
Quando retorno ao estado de “consciência”, e passo a ser a leitora crítica, sempre acabo me invejando ou me descreditando. Nunca sou a premiada, porém se me desaponto, sou sempre eu mesma.
Tenho medo de me proscrever...

Pesadelo real

Hoje sonhei com seu sorriso
Tal qual como era...
Sem rugas em torno dos seus olhos
Nem manchas na face direita

Sua pele era macia e cheirosa
Tal qual como era...
Não tinha essas cicatrizes
Nem feridas meio abertas

Seus cabelos eram tão dourados e radiantes
Tal qual como eram...
Não estavam embaraçados
Tão pouco tão opacos

Seus dentes eram tão brancos
Tal qual como eram...
Sem esse amarelado na parte de baixo
Nem escoriações acima, corroendo.

Hoje sonhei com seu sorriso
Tal qual como era...
Lembrei da sua pureza
Lembrei de uma alma completa