terça-feira, 16 de novembro de 2010

Escrever

...e devagar fui tomada, de novo, por aquela sensação estranha que começa no estomago, passa por todo o sistema nervoso e para de repente na garganta ...
-“medo”...
O que eu escreveria dessa vez? O que inconscientemente seria revelado do mais abstruso labirinto de meus delírios?
Então pensando sobre isso enquanto olho o papel branco cheio de linhas vazias, percebo o surgimento de outro sentimento:
-“entusiasmo”...
O anseio de desvendar-me a meus próprios olhos é uma sensação que sempre me deixa eufórica. Mas isso implica exposição também ao mundo. A palavra lançada pode ser pior que a flecha, pois se o arqueiro perder a mira, a vítima tem seu livramento, no entanto, neste caso, todos meus inimigos sabem ler. Porém, mesmo que isso venha a me custar as críticas ignorantes, não supera o prazer do autoconhecimento e da anuência daqueles que partilham devaneios parecidos ou até mesmo dos que me acham espirituosa.
O medo persiste apenas quando as palavras desprendem das linhas e tocam a realidade das minhas mãos pequenas. Quando escrevemos para contar um fato ou expor convicções o medo não existe. Somos firmes, conscientes, idealizadores. Mas quando simplesmente olhamos para o céu ou para o teto vazio e sentimos a necessidade de escrever, aí está o perigo. Não sabemos o que vai sair das pequenas curvas que os dedos fazem com o lápis ou a caneta. É quase impensado, se não fosse o fato de ser controlado por uma parte de nós intangível em estado normal. É como estar em estado de êxtase, sem controle intelectual do que está fazendo. E é nesse ponto que ganha poder de mudar uma vida. Principalmente a minha.
A mudança nem sempre é algo bom. Tudo o que evolui muda, mas nem tudo que muda evolui.
Quando retorno ao estado de “consciência”, e passo a ser a leitora crítica, sempre acabo me invejando ou me descreditando. Nunca sou a premiada, porém se me desaponto, sou sempre eu mesma.
Tenho medo de me proscrever...

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